A MORTE

A MORTE

Eu sou a morte no jogo da vida,

No logro da vida eu sou tua sorte;

Se tu es riqueza, eu sou o teu medo,

Sou negro segredo, sou gasto, sou forte.

No amargo alimento sou tua gastura,

Que arrasa tua alma, atrasa teu corpo;

E no desconforto que vem e abrasa,

Sou porta lacrada, sou tua loucura.

No triste desterro da vã liberdade,

Sou vala encoberta prendendo os espíritos;

Que vagam num mundo sem paz e saudade,

Sou tua maldade, sou farpas de espinhos.

Se andas sozinha, te quero a meu lado,

Sou a tal boa morte, sempre a te cercar;

E tu, oh! Coitada, vida desgraçada,

Não tem quase nada, nem vale chorar.

*J.L.BORGES

Jorge Luis Borges
Enviado por Jorge Luis Borges em 27/12/2018
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