MORS PRAECOX
Exaurido pelo ódio a queimar-me nas costelas,
aceito estar excluso pela vida às coisas belas.
Feiura que me unge e esconde de luxúria
aos braços de solitária meretriz; frio abraço de penúria.
Encamado e de mocidade ressecada, um farrapo,
o corpo serve agora aos ossos como mero trapo.
Lar de meus mil males, aglomerado eclesiástico
desfeito pela boca em doído porvir cáustico.
E à hora de minha morte, poupem-me da cruz e dos prantos,
poupem de suas preces os pobres santos,
que tomarei de confessionário uma janela e por padre a alvorada.
Falar-lhe-ei de pecados e desgostos, ah, que tenho tantos.
Deitar-me-ei para ver os idos virem envolver-me em seus mantos
carregando-me por fim à minha última morada.