Poema - Moloch

Poema - Moloch

Nos devaneios das flores morrem os espinhos

Nos escárnios da poluição divina

Nascem os suicidas

Em meus sonhos vive uma criança

Aprisionada pelas minhas angustias

Todas as noites quando eu estou dormindo

Ela vaga pelo vale das sombras

Montada em um bode preto de patas escuras

Se alimentando das minhas feridas

Ela corrói as minhas entranhas

Tento sufragá-la em meu peito

Para que ela nunca escape da sua prisão

Mas todas as vezes que eu choro

Ela é a primeira a me apoiar;

Oh morte

musa dos meus devaneios

o sonho inquietante de uma criança solitária

Que o seu manto frio

sirva como um cobertor aos vermes

que se alimentam do meu cadáver (...)

Na encruzilhada das Almas

Encontrei o livro sagrado de Goétia

Asmodeus me ofereceu um único pedido

Das suas bênçãos

Eu fiz a minha tragédia

Voltei no berço da minha infância

E apunhalei aquela pobre criatura

Que nunca deveria ter nascido

Me matei aos três anos de idade

E até hoje eu posso ouvir

Os meus gritos de desespero

Eu sempre fui uma criança maldita

Olhavam-me como um monstro

Que desejavam expurgar

Isolavam-me dos outros

Como uma praga que corrói

As entranhas dos santos

E fazem das freiras

Ninfas perversas

Hoje

Todas as vezes que eu me olho no espelho

Sou obrigado a encarar estes vermes

Que cresceram nas minhas entranhas

E estas dores

Que me fazem sentir e chorar

São parte de quem eu sou

Forças que me ajudam a lutar

Eu não sou um homem!

Tampouco um Poeta

Eu sou a miséria que vive em seu peito

E o suicídio de todas as suas convicções!

Se me fossem concebida uma nova oportunidade

Um novo pacto ou uma nova benção

Abraçaria aquela pobre criança

Diria para que ela não tema a escuridão

Pois algum dia reinaremos sobre ela

Daria a ela amor incondicional

Pois algum dia nos tirariam tudo!

Mas eu sou o resultado

De todas estas dores

Todos estes traumas

Sem estas cicatrizes

Que cobrem o meu corpo em forma de tatuagens

Sobrariam somente os vermes

E o absoluto nada!

Em meus sonhos vive uma criança

Moldada nas minhas angustias

Todas as noites quando eu estou dormindo

Ela vaga pelo vale das sombras

Montada em um bode preto de patas escuras

Gerson De Rodrigues
Enviado por Gerson De Rodrigues em 23/03/2020
Código do texto: T6895234
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