Quimera
É, meu bem, foi ali que se fora
O acreditar na aurora em vão
Em dias vividos e horas apagadas
Apenas virara poeira no chão
É, inimigo, crede naquilo que somos
Fomos o que nunca se viu
Outrora, que sempre existiu
E que em outro momento se fora
Assim tão longe, da vida aurora
É, amor, que falta faz a saudade
De tempos incertos, mas crédulos
Da época sem vez e voraz
Do dia que amanhecera sem sol
De dias chuvosos, sem paz
É, amigo, quantas palavras calei
Clamei por alguém nesta terra
Como quem se ladra ao nada
E que do nada, brada-se em vão
Para aqueles que nunca saberão
É, irmão, quanto se há somente o chão
Percorrê-lo-ão, mesmo que em vão
Ainda assim, o pão de cada dia existirá
E nosso amado circo, continuará
Nada de fato, acontecerá
É, vida, foste tão intrigante
Camuflando a defunção
O certo finamento, ao longo de decepções
Foste plena então - o delírio assim sussurrava
Até que o genuíno decesso chegara
Enfim, para romper a ilusão