Sorri de Volta

Quando ninguém acreditar na tua miséria

Fale-lhes de morte.

Fale-lhes da amargura da terra,

Da dureza e frieza da pedra da tua sepultura

E dos lamentos de quem se ajoelha.

Liberta a tua alma;

Deixe-a partir descorrentada

A bordo dum velejador

Que esta noite sai do porto.

Distante da humilhação da tua carne,

Deixa-te morrer com dignidade.

Elevaste montanhas,

Inundaste os oceanos,

Os astros ganharam forma própria

Só com o entulho que o teu espírito deixou para trás.

Mas apesar das tempestades

Ou do sol fervente,

Apesar da fome

Ou do câncer dissolvendo-te,

Persiste na tua jornada,

Com a morte ao teu ombro.

Sim, é a escuridão do abismo,

Porém, é estranhamente reconfortante.

Tens receio que o teu desfecho

Possa ser libertador?

Tens receio que a morte te sorrie

E tu, incontido, sorris de volta?

Sérgio Peixoto
Enviado por Sérgio Peixoto em 22/04/2021
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