Áclis

A minha companhia me pega pela mão

Me leva a cozinha, me despe rapidamente

Ordena-me deitar em cima da mesa fria

Como a autópsia de um corpo morto

Enquanto me usas, em sua fúria

Suas mãos pesam contra minha tranqueia

Seus lábios me mastigam no conflito

Sua anca acidenta-se na minha deformidade

Depois de cada beijo que me arrancas

Arrasta a língua até os meus ouvidos

Suspirando frases desconexas e românticas

E em transe, eu as aceito e cuido com dedicação

Minhas mãos tremulam

Minha identidade se mistura com a tua

Antevejo visões que não existem

Onde sou noiva, espelho e buquê

Meu vizinhos que me escutam

Perdoem-me, mas sou todo inútil

Enquanto as paredes curvam-se para ouvir

Eu escuto os talheres rangendo do outro lado

Seus olhos tão abertos, me dissecam

Seus atos tão secretos me dissecam

Minhas feridas superficiais se afundam

Nos mares em que ninguém atreve-se a navegar

Logo após seus desejos sórdidos

Me amaldiçoas, datando meus sentidos

Diz que minha boca é um cemitério a céu acerto

Onde só se sabe a respeito do gosto de ferro no sangue

O cheiro de morte é convidativo ao lazer

O que faz ceifadores e carrascos

Esperarem em meu encalço

E vestirem suas fantasias de amantes