Overdose
Já nem perturba a implicância,
Não consola a complacência,
Vai viajando em sua ausência,
Em coma, dentro da ambulância.
Não há na atual instância
Traço qualquer de coerência,
Teria sido sua vivência
um exercício de inconstância?
Agonia em vida, em morte a ânsia,
Paradoxal a flagrante ausência
De um pedido de clemência,
Fulgurante a jactância.
Eis então uma mente em consonância,
Com a visão total da experiência,
Da podridão sem reticência,
Elegia à própria petulância,
Sem recear a repugnância,
de sua putrefação e virulência,
Desgraçada a carne, já sem consistência,
invólucro tosco da invigilância.
Débil ser a perecer sem consciência,
Aprende: Morre-se tanto, com frequência,
Ou ainda mais, na indecência,
De uma vida sem importância!