Avô

Naquela câmara alva,

Sorumbática, impregnada de quietude,

Sussurros pelos corredores ecoando,

Além dos gemidos de angústia.

Você segurou minha mão trêmula,

Enquanto quase à margem da consciência,

Eu tentei conter o pranto,

Enquanto fitava teus olhos níveos.

Foi uma manhã e uma tarde árduas,

E ao crepúsculo, reacendeu-se tua voz,

Emudecida pelos eflúvios dos antibióticos,

Enquanto a morfina não surtia efeito.

Mesmo com a sonda escabrosa em tuas narinas,

Tu lutaste para enunciar escassas palavras,

E suplicaste para ser libertado dali.

Eu disse: "meu querido avô, na sexta-feira retornarás,

Para plantar teus amendoins".

Tu sorriste, uma lágrima acariciando meu coração dorido,

E eu apenas rocei suavemente teus cabelos prateados.

A jornada do dia findava,

Na noite, estaria acompanhado pelos filhos,

Despedi-me, esperançosa de retornar no dia seguinte.

Desconhecia eu, o teu desligar antecipado do hospital,

No dia seguinte, segurei tuas mãos novamente,

Tuas mãos frias, rígidas e sulcadas, marcadas por uma longa travessia.

Teu semblante de serenidade, repousando nas profundezas do sono eterno.

Bruna Senhor
Enviado por Bruna Senhor em 10/07/2023
Código do texto: T7833995
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