Avô
Naquela câmara alva,
Sorumbática, impregnada de quietude,
Sussurros pelos corredores ecoando,
Além dos gemidos de angústia.
Você segurou minha mão trêmula,
Enquanto quase à margem da consciência,
Eu tentei conter o pranto,
Enquanto fitava teus olhos níveos.
Foi uma manhã e uma tarde árduas,
E ao crepúsculo, reacendeu-se tua voz,
Emudecida pelos eflúvios dos antibióticos,
Enquanto a morfina não surtia efeito.
Mesmo com a sonda escabrosa em tuas narinas,
Tu lutaste para enunciar escassas palavras,
E suplicaste para ser libertado dali.
Eu disse: "meu querido avô, na sexta-feira retornarás,
Para plantar teus amendoins".
Tu sorriste, uma lágrima acariciando meu coração dorido,
E eu apenas rocei suavemente teus cabelos prateados.
A jornada do dia findava,
Na noite, estaria acompanhado pelos filhos,
Despedi-me, esperançosa de retornar no dia seguinte.
Desconhecia eu, o teu desligar antecipado do hospital,
No dia seguinte, segurei tuas mãos novamente,
Tuas mãos frias, rígidas e sulcadas, marcadas por uma longa travessia.
Teu semblante de serenidade, repousando nas profundezas do sono eterno.