A sirene

O som das sirenes ligadas

Entre meia noite e madrugada

Me trazem memórias sofridas

De vindas e idas me lembrava.

Ô mãe, cadê o titio?

Titio tá no céu.

Ô pai, cadê Pedrinho?

Pedrinho virou réu.

E cadê Júlia?

Júlia tá na sua lua de mel.

E o vovô?

Vovô tá ao léu.

E o que o vento levou? Minha alegria.

Não escutar sua voz, me enlouquecia

Cadê você bem? Cadê você? Perdemos a sincronia.

Duas batidas na porta era tudo o que eu ouvia.

Escutou calado com tudo o que sentia

Não aguentou o trampo, uma corda escondia

Subiu no banco, em seu pescoço havia

Marcas avermelhadas de asfixia.

Nem tempo tivemos para te ajudar

Não havia chances de você voltar

Mesmo após seu coração amargar

Sempre soube que aqui era o seu lugar.

Com uma família marcada por perdas

Não te julgo por não querer estar lá

Passei a vida tentando arrancar de mim

O medo de te encontrar e te contar.

Que sou diferente, que você pode mudar

Gente como a gente pode ter seu próprio lar

Perigos sempre haverão, mas podemos nos juntar

Se houvesse respeito, se soubessem amar.

Mas só sabiam te criticar, desanimar e rejeitar

E você escolheu a pior estrada para caminhar

Tentou sair do fundo do poço sem se afogar

Mas claramente não deu certo e aqui você não está.

Maldita sirene foi tocar

Me lembrou do que não queria lembrar

Mas se for uma lição espero poder contar

Com meu eu do futuro, para iluminar por onde andar.

Longe dos perigos da vida

Onde segura minha família possa estar

Longe das dores e das feridas

Onde meu corpo possa descansar