Carta a quem ficou

Deitado, pálido, em silêncio,

esse sou eu, o eu que você nunca viu.

Meus olhos claros não receberão mais o brilho do sol,

minhas mãos calejadas não sentirão mais a tua macia e delicada pele.

Meus pés não sustentarão mais todos os meus passos,

e o som dos meus passos não incomodará mais nas noites vazias que há.

Minha voz se apagará, meus risos não ecoarão mais nos corredores vazios do meu lar,

ninguém mais me ouvirá,

nenhuma resposta sairá de mim.

Levarei comigo todos os meus segredos, todos os meus passados, todos os meus desejos.

Tudo que está diante de ti é o meu eu vazio.

Deitado, pálido, em silêncio,

não sentirás mais o calor do meu abraço,

o carinho do meu beijo,

o olhar do meu orgulho.

E no final de toda essa prece,

de todas essas lágrimas,

minha face será coberta pelas sombras,

eternizada para sempre em tua mente.

Então, não restará mais esperanças.

Deixo agora contigo

a minha vida, junto de tuas lembranças.