"Um Sonho Ridículo"

 

"Quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver" - Montaigne.

 

Vista seus melhores olhos e

Contemplai-me com atenção

Porque hoje é o dia de minha morte

 

Pois ainda, e tanto, enquanto

E mesmo, às vezes, e sempre

Me faltará algo que me resta e

Nao me completa

De modo que nunca poderei dizer-me

"Que esse sou eu e nao um outro qualquer"

 

Me verifico ausente mesmo quando estou presente

Estou presente ainda que esteja ausente

De fato que nunca estou onde'stou

E não é concebível que me seja concedido

O benefício da vida

 

Diante de mim

Pressinto o perigo à espreita

Além de uma garrafa de Absinto

Textos de Edgar Allan Poe

Um pedaço de algo que mata fome

Cujo nome não importa neste momento

Porque essas serão as últimas coisas que verei

E mesmo porque nunca me foram suficientes


Reflito sobre coisas que me eram caras

O sorriso de entes queridos, e amigos

O gol do time do coração

O gosto dos prazeres da bebida

Do fumo e das mulheres

Em outras palavras,

Todo estoicismo inerente a um corpo hedonista

 

Sentado nesta poltrona desconfortável

Estou a pensar na vida que levei

E a melhor maneira de findá-la

Que seja talvez indolor ao mesmo tempo que

Memorável, sublime e edificante

 

Aqueles que me gostavam

Rogo-lhes perdão

Aos que me odiavam

Sinto desapontá-los com o meu fim

Em meu epitáfio quero dizeres assim:

"Que foi feliz enquanto viveu

Conquanto mais feliz quando morreu”

 

Em homenagem e inspirado no livro "Sonho de Um Homem Ridículo", de Dostoiévski.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 09/04/2024
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