UM VELOCÍPDE NO NATAL

UM VELOCÍPEDE NO NATAL

Num desses natais da minha infância,

Quando meu pai já havia se separado de minha mãe,

E nem sequer a tristeza e solidão

Valorizavam a minha vida,

Mamãe pediu-me que eu fosse à vizinha

Buscar algo que não me lembro o quê.

No longo corredor daquela casa,

Um velocípede descansa num vermelho brilho,

Que era impossível eu não tocá-lo.

Eu sabendo que todos estavam ocupados,

Naquele almoço que me deu água na boca,

Um tanto eufórico, montei no velocípede

E pedalei apressado para não ser notado.

Após, sair pulando, mão segurando o Céu,

Sonhei com um tapete azul parando em minha porta

E um velho de barba branca colorindo todo o meu ser.

O tempo passou depressa

E o velhinho nem sequer lembrança,

Embora a minha criança ainda sonhe com um velocípede.

A criança que do velocípede era o dono,

Quando já adultos – eu recebendo muitos aplausos.

Numa daquelas noites em que eu era a estrela de maior brilho,

Num abraço, segredou-me ao ouvido:

“Meu velocípede... Eu vi tudo...

Vi tudo pelo espelho.

Hoje, tenho carros, bicicletas, contas em bancos.

Mas você tem o Mundo dos Ditosos

Cintilando com intensidade em suas mãos.

Só quem desperta o Papai Noel da infância

Realiza sonhos e é feliz –

Apesar de nem sempre o saber.