BONECO DE NEVE

BONECO DE NEVE

Ando pelas ruas cheias

As músicas se repetem

Faltam mãos pra sacolas

Não neva, restam bolas de isopor

Caras vestidos de vermelho

Barbas frouxas de algodão

Apitos, buzinas, e mais sacolas

O salário do mês treze no bolso

Uma guirlanda na porta

Show de luzes na cidade

O mundo todo se dá a mão

Pena que não sei o nome do meu vizinho

Sigo tão cercado e tão sozinho

Repentinamente meu coração se apieda

Do homem ao lado de uma latinha de moedas

Maltrapilho, sujo, estendido na calçada

Mas logo, pedestre , ao meu lado,

me traz à razão - não é miséria, é profissão.

O distinto faz ponto, cumpre horário, só não bate cartão.

Meus olhos se enganam - mas não ao coração.

Num instante, me lembro do Menino de Belém

Em todas as grandes coisas que Deus tem feito

Mas o oxigênio do meu cérebro

Parece um tanto quanto rarefeito

Talvez devesse comprar um cérebro biônico...

E não é que perco meu olhar num painel eletrônico,

Onde balofo boneco de neve

Tem em suas precárias mãos um tablete e um celular

E a vida se esvai ao alcance dos dedos...

Paulo de La Mancha
Enviado por Paulo de La Mancha em 28/11/2011
Código do texto: T3361939
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