OUTROS NATAIS

Ah, como é bom recordar,

Natais dos tempos de outrora,

Quando o sonho era aqui e agora

E a vida uma canção de ninar.

Fazer dum presépio pequenino

Um pedacinho do céu, povoado

De mansinhos animais,

E pastorinhos de faces afogueadas

A adorar o Deus menino

Deitado sobre palhinhas doiradas.

E o povo simples cantava feliz

Canções, ternas, singelas,

Tão belas,

Lá na vetusta igreja Matriz:

‘Foi nesta noite venturosa

Que nasceu o Salvador,

E anjos de voz harmoniosa

Deram no céu este clamor:

Glória a Deus nas alturas

E na terra paz aos homens’.

A família após a missa do galo

Alegre festejava a consoada:

Bilharacos e rabanadas

Castanhas quentinhas, assadas,

E bom vinho na picheira*,

Ao redor do lume na lareira;

Fora da porta a geada tudo pintava,

E ficava tão branquinho,

Uma beleza!

Que mais parecia um imenso lençol

De linho, a natureza,

Onde as estrelas do céu

Desciam para brincar com Jesus menino,

Tão belo e pequenino. .

*(regionalismo) bilha de formato elegante e de boca trilobada.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 11/12/2011
Código do texto: T3383107