NATAL
O que restou do Natal? Jesus e a sua cama de porcelana?
Não, quebrou-se. Lascou-se de tanta devoção.
Uma estrela, cometa prateado com furinho para o prego entrar?
Por sobre vaquinhas desassustadas?
Não, de tão cadente, deve estar junto de mim.
O ponteiro, na cabeça da árvore, guardado em entranhas,
a imprimir grande medo, (se pegar, quebra!?)
A cidade iluminada, gente olhando o céu, as lojas abertas,
sempre à minha espera?
Não, é minha eterna luta contra o tempo.
Missa do galo? Loas ao aniversariante? Quantos anos mesmo?
Não, somente conversas sobre o rigor das notas
do boletim já engavetado.
O que restou do Natal? Daqueles natais.
O que restou foi o Luiz Bordon,
e uma harpa que ainda me põe nu.
2005
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