DESERTIFICAÇÃO DO BRASIL

Desertos surgem nas catingas do nordeste.

O Catingueiro sem recurso fez a roça

quando a chuva caiu em sua terra agreste.

Tudo ficou verde e ele deu risada grossa.

Ao florescer só deu céu cor azul celeste.

Perdeu tudo que fez e caiu numa fossa.

Ano após ano assim, o solo fica pobre.

Pra tudo há solução, só falta gente nobre.

Desertificação vê-se no sul também.

Povo que tem recurso fez a plantação

em terra remexida e adubada tão bem.

Alternaram-se, chuva e sol, com perfeição.

Tudo correu bem e ele encheu seu armazém.

Ano após ano assim, o solo perde a ação.

O campo sem fim faz que o bom clima soçobre.

Pra tudo há solução, só falta gente nobre.

Se o catingueiro colhe só para o sustento,

tristeza ele não sente, acha até que deu sorte.

Acostumado está a viver no tormento.

Produzir o carvão lhe dá maior suporte,

pois esse em qualquer tempo lhe dá o alimento.

Ele cria o deserto fugindo da morte.

Ninguém pode culpá-lo se de pau faz cobre.

Pra tudo há solução, só falta gente nobre.

Se o plantador do sul tem um fruto rendoso,

muito alegre não fica, ele acha que é normal.

Acostumado está a viver no gostoso.

Produzir para exportar é fundamental,

pois isso lhe dá hoje um viver mais garboso.

E a terra sem os paus cada vez passa mal.

Culpá-lo pode alguém pelo chão que descobre?

Pra tudo há solução, só falta gente nobre.

(01/02/1992)

Almir Câmara
Enviado por Almir Câmara em 01/01/2011
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