A CLARISSA PAINEIRA
AUTOR: MANSUETO BERNARDI
A paineira é uma planta franciscana,
Uma filha menor de Santa Clara.
Uma serva descalça do senhor.
Seus espinhos não são espinhos,mas cicílios
Com que ela noite e dia mortifica
A própria carne,sob a veste monacal,
São seu escudo contra as más tentações.
Quanto,ao brilho do sol da primavera,
Mais de todas as outras árvores em torno,
Se adornam para o efêmero mundano,
Em sua vida de oração e penitência,
A Clarissa Paineira não se enfeita nem descansa:
Tece que tece flocos de algodão
-De algodão muito branco e muito suave-
Que os pássaros e os homens aproveitam
No aconchego dos ninhos e dos leitos.
Meses e meses fica assim exposta
A canícula,as chuvas torrenciais,
Ao frio,ao vento ríspido e cortante,
Sem um único abrigo,toda recolhida
Num sonho de noivado celestial.
Contemplativamente,religiosamente
A criatura louva o criador.
Ao cabo de uma dessa rudes provas,
Desses longos retiros em si mesma,
A Paineira nem mais parece uma árvore,
Mas uma vida chama cor de rosa,
Um grito de alegria sobre humana,
Uma explosão de méstico fervor.
São as flores que a humilde atira para o alto,
Que as mancheias atira para o alto,
Que num arroubo atira para o alto,
Aos pés da altura de Deus Nosso Senhor.