FLORZINHA XERETA - SAUDOSISMO - A MATA MUDOU DE LUGAR - A SEIVA DA VIDA -

FLORZINHA XERETA...

Uma florzinha tão inconformada,

De viver contida em seu jardim,

Subiu afoita, a cerca, essa danada,

Bisbilhotando o outro lado, assim!

Mas o que viu, a fez mudar de idéia,

E voltar de novo pro lado de cá...

Subindo a cerca ligeira, uma centopéia,

Tentava fugir para o lado de lá.

As tristes árvores vizinhas soluçavam,

Pois no terreno nasceria um espigão.

Ao som da serra as pobres soçobravam,

Sem vida, tombavam com clamor, ao chão.

A florzinha ficou tremendo, desolada,

- Pro outro lado, não havia alento...

Chorou até, a coitadinha, emocionada...

Todo o verde acabou em pouco tempo.

A centopéia olhou a florzinha que chorava,

E foi descendo a cerca pro outro quintal.

Era lindo o jardim onde essa flor morava!

E a centopéia achou aquele, o lugar ideal!

A centopéia assim fez tão boa amizade,

E passou a morar juntinho com essa flor.

Sempre existe lugar aonde houver bondade,

Sempre cabe mais um aonde houver amor.

SAUDOSISMO

Que saudosismo perene,

Nossos tempos de criança,

Em que tudo era tão verde...

Depois? A cidade avança...

Leva campinas e prados,

Asfalta as ruas de pó,

Tudo muda, tudo acaba

Das crianças tenho dó...

Dói na alma ver os prédios,

Por cima dessas belezas.

E os campos de futebol,

Se acabaram... que tristeza!

Sonhos ficam enterrados,

Nas pilastras que sustentam,

Espigões e Shopping Centers,

Saudades nossas que aumentam.

Cada qual sua vivência,

Tempo que não volta atrás.

Cidade consome a mata...

O antigo verde? Jamais!

Que pena...

A MATA MUDOU DE LUGAR

Quão doce sinfonia deixou de existir,

Quando a cidade tomou conta do matão.

O canto dos pássaros não pude mais ouvir,

Se confrangeu de dor, meu coração.

Vi aos poucos a floresta sendo derrubada,

E o implacável progresso nada respeitou.

Chorei, pois não podia mesmo fazer nada,

Triste, meu sonho de criança se desmoronou.

No meu quintal, entanto, a velha goiabeira,

Permaneceu, imponente, quase que a orar...

E de repente, pareceu que a mata inteira,

Apenas mudou mesmo de lugar...

Havia espaço ali, e muito mais plantei,

Felicidade a minha, da terra vi brotar,

O verde, antes perdido, então reencontrei,

E tantos passarinhos vieram ali morar.

Sabiás Laranjeira, Maritacas, beija-flor,

Bem-te-vis, mil andorinhas e sanhaços,

Nas árvores fizeram seus ninhos de amor,

Por entre os galhos, dividindo espaços.

Hoje a cidade ganhou mais alegria,

Nas árvores plantadas nas calçadas,

E nas pequenas praças, ao raiar do dia,

Canta de felicidade toda a passarada.

A natureza sempre dá o seu jeitinho,

Sorri e se acomoda em qualquer lugar.

Basta que a tratemos com muito carinho,

E plena de poesia ela saberá se derramar.

Plantem o verde, promovam a ressurreição.

Não deixem morrer seu sonho de criança.

Os pássaros virão gorjear, sua canção,

Ao verem que ainda existe uma esperança.

A SEIVA DA VIDA

Ninguém reconheceria em mim, a antiga árvore pacífica,

Que em tantas primaveras se deixou florescer...

Agora meu gemido é um brado na floresta,

Um grito em meio ao fogo no qual estou a fenecer.

Plantada assim, no chão, por profundas raízes,

Não consigo fugir da sanha do malvado.

Que ateia o fogo, matando a mata sem piedade,

Quando não nos degola com o seu machado.

O ódio tomou conta de mim e já ninguém diria,

Que aquela antiga e tão formosa árvore, sou eu.

A sede de vingança substituiu o antigo amor,

No coração que o fogo ardente corroeu...

Não precisei vingar-me, pois a natureza é sábia,

Deu o devido retorno, a quem a tratou de forma vil...

O homem devastando causou a própria morte,

Destruiu o que lhe dava vida e não resistiu...

Mas com surpresa, em meio às cinzas da devassidão,

Senti soprada ao ar, no meu tronco, uma folhinha...

Que clamava pela vida, num anúncio de paz,

E procurei em mim, um pouco de seiva para a coitadinha.

É assim a vida, um constante, lindo e eterno renascer...

Se houver esperança, uma promessa, ou um pequeno alento,

Quando o homem destruir, com surpresa, tu poderás ver,

Muitas novas folhinhas balançando ao vento!

Aprenda o homem tratar com respeito a natureza,

Agradecendo a ela, toda essa beleza, toda essa fartura...

O fruto, a sombra, a água que lhe mata a sede,

O ar que o faz viver, a tão sonhada paz pra cada criatura.

MWarttusch

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MWarttusch
Enviado por MWarttusch em 21/01/2012
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