Eu sou o Jaguaretê

Eu sou o Jaguaretê e quero me apresentar

Sou de uma grande família

Que já foi dona e senhora deste lugar

No tempo dos Avá etê

Do povo de língua tupi-guarani

Mui antes do branco chegar.

Sou também conhecido como Onça Pintada

Pertenço a família dos mamíferos carnívoros silvestres

A onça parda, o puma, a onça preta, o jaguarum,

O jaguarundi, o maracajá, a ariranha, a lontra,

A suaçurana, leão baio, a onça lobuna, o jaguar

São todos meus parentes...

Hoje sou incompreendido, mal visto, perseguido

Mas antes não era assim

Os índios sempre nos respeitaram,

Para os guarani somos os jaguaretê-ava´,

Os primeiros habitantes da Mãe Terra.

Para os incas e astecas somos o Jaguar Voador,

Para os Bororo somos o espírito dos antepassados

Mas para os europeus e seus descendentes

Somos a diversão da caçada,

O tapete de couro pintado estendido na sala

A cabeça empalhada como troféu

O crânio expondo os balaços,

Os dentes usados como chaveiro,

O terror do gado, o enviado do Diabo !!!

Mas porquê chegamos a tanto ?!

Basta olharmos para trás

A mata foi derrubada,

virou lavoura de soja, milho,

O campo virou do gado a invernada.

O tatu, a paca, o veado, a capivara

A jacutinga , o caititú, a queixada

Tiveram , como eu, a sua morada exterminada

Tornaram-se escassos por serem mui apreciados

Pelos peões, fazendeiros, caçadores, garimpeiros,

Empreiteiros, lavoureiros e toda gente em geral

Fazendo imperar em nosso meio

Uma desgraça sem igual.... a FOME .

E assim para atender a minha companheira,

Para dar de comer aos nossos filhotes

Sou abrigado a atacar o gado

Matar novilhas, potros, cabritos, carneiros

Vacas doentes, porcos, bezerros...

Então aqueles que destruíram nossa morada

Nos caçam com suas matilhas enormes

Cães furiosos devidamente treinados

Que nos fazem subir em árvores

Quando não mais temos força para fugir.

Para lutar contra milhares de dentes

Da jaguarada enfurecida que no dilacera

Com suas potentes mordidas.

Lutamos, damos tapas, desferimos golpes

Cercados por um número enorme de cães

Em uma disputa covarde, desigual

Pois apenas defendemos nossa família.

Caçamos aquilo nos foi tirado

Por isso abatemos o gado ...

Então chegam os caçadores

Com suas potentes espingardas,

Algumas com mira a leizer e luneta,

Revólveres de todos os calibres.

E logo mais um corpo cai.

Uma mãe, um filho, um pai

Vitimados pela ambição, pela ignorância

Daquele que se intitula

O mais sábio dos animais...

Assim, o crescimento das cidades,

O incontrolável desmatamento,

O envenenamento das carcaças,

As armadilhas, os laçeiros, as queimadas

São os maiores responsáveis

Pela quase extinção de muitos de nossa raça.

Respeitem os 20% da reserva legal,

As áreas de preservação permanente

As matas ciliares, os animais que são nosso alimento

E não precisaremos atacar rebanhos

Para garantir a nossa comida, o nosso sustento.

Não pensem que é uma fala atrevida

È apenas um verdadeiro argumento

De quem nada mais quer ,

Que preservar a própria VIDA !!!

Jardim/MS 08 de outubro de 2008

Marcus Antonio Karaí Mbaretê Ruiz

Raoni Mbaretê Echeverria Ruiz