Grito da Vida

A tarde enfeita-se do entorno ao monte,

As ondas bailam suaves no final de dia,

Em degrade escarlate veste-se o horizonte,

Tremula dourado o sol na brisa tardia,

Tépida, reflete a areia um último cintilar...

Reconfortadora, imersa no silêncio,

Não tardará a noite, amiga passageira.

O astro rei inclinar-se-há a orar!...

A paz brilhará na estrelada cimeira:

Anúncios perpétuos d’um novo despertar.

Emerjo-me do mergulho nos frágeis ais

E submerjo na fecundidade das tardas tintas,

Em cada tom de laranja, carmim e lilás,

Derradeiros recamos da luz fugidia.

Ressuscitam-me no que há e no que havia.

Ouço sob este manto que recolhe o dia,

Tênue como a brisa redentora da tormenta,

Enredado em bordado de paz e harmonia,

- Aqui estou; Amor que depura e inocenta...

O grito da Vida ecoando desde o horizonte.

E a não menos que em tudo me refaz:

Espírito, substância, consciência e vontade;

Sonhos, propósitos, esperanças e liberdade.

Submeto-me às alvíssaras que o Amor traz

Num estar sem lembranças e sem verdades.

Manito O Nato

05/2014