MÃE NATUREZA

No princípio Deus criou os céus e a terra,

A luz e as trevas, os mares e as florestas,

E viu que era bom.

Depois Deus criou os homens à sua imagem,

Macho e fêmea os criou,

E viu que era bom.

Muito tempo se passou

Desde que Caim matou Abel,

Tentado pelo demônio da inveja.

Hoje o Jardim do Éden,

Antes paraíso fecundo,

É Selva de Pedra.

A luta pela sobrevivência dos seres humanos,

Em todos os quadrantes do mundo,

Acarreta a integração dos centros urbanos,

Resultado inevitável da migração lenta

Do campo para as cidades,

Na busca de melhores oportunidades

De trabalho e renda.

Há cidades de vários tamanhos,

Exibindo diferentes paisagens.

Nas metrópoles os prédios se acotovelam

Na escassez de espaço:

Hospitais, escolas, lojas, bancos...

Tudo se aglomera no perímetro urbano:

Empresários, garis, professores, biscateiros...

E todos respiram amiúde o mesmo ar poluído,

Que penetra pelas narinas e debilita a saúde.

No interior de cada residência, de cada cômodo,

De cada homem, há poluição.

A concentração de gás carbônico,

O derrame de petróleo nos oceanos,

A deposição de agrotóxicos no solo, nas águas,

De embalagens plásticas no solo, nas águas...

A indústria contribui para produzir danos,

Para destruir o homem, a vida, a criação.

Os automóveis são os que mais contribuem

Para a poluição do ar com a fumaça tóxica,

Para o aumento de doenças na visão e nos pulmões,

Para o aumento de consultas médicas e internações,

Sem falar do desequilíbrio emocional,

Mas o quadro de saúde da Economia continua estável.

Até o planeta contribui para a poluição ambiental

Com o relevo, a altitude e o ar que venta,

Que, às vezes, traz bonança e, às vezes, tormenta.

E o lixo, esta escória da sociedade industrial?

Na era do consumismo, do modismo, da high tech,

O lixo está presente em todas as cidades,

Em todos os bairros, em todas as ruas...

A poluição do solo promove a deterioração

Da beleza das paisagens e da qualidade de vida,

Provoca a proliferação de animais responsáveis

Pela transmissão de agentes patogênicos,

É um convite a uma epidemia forte,

A dengue, que pode trazer consigo a morte.

A poluição das águas é uma sentença irrecorrível,

Que condena a vida aquática a uma pena terrível:

Mata os peixes por asfixia,

Mata os peixes por envenenamento,

Mata a vida que nada e respira:

Tambaquis, dourados, lambaris, badejos...

Mata também os sapos que coaxam nos brejos.

Os rios, as chuvas e os ventos

Foram criados para dar vida ao planeta,

À flora, à fauna, ao homem, aos filhos do homem,

E não para devastar os campos e as cidades.

Mas como a vida urbana é uma questão política,

Alguns governantes preferem investir dinheirões

Em obras públicas que apareçam na mídia,

E rendam rios de votos nas eleições:

Estradas, pontes, viadutos, praças...

A investir na fiscalização de construções

Em áreas de risco (sementeiras de desgraças),

E na instalação de encanamentos debaixo da terra,

Invisíveis para a população que comparece e vota,

Que é a mesma população que padece e morre.

A vida é a realidade fantasiada do sonho,

É ver com os olhos do coração.

O mundo é a verdade falseada, suponho,

É o cisco que trava a visão.

Enquanto se consumam esses conflitos

Entre a alvura da vida e a incúria do mundo,

A exploração campeia e adquire cidadania,

Insensível à inópia da maioria da população.

Paira um ar de triunfo no Inferno de Dante,

No círculo mais profundo do abismo autotélico

Onde fervilha o pensamento econômico

Que defende a mais-valia com cetro gigantesco,

Quando a mais ruinosa e dantesca desvalia

É a degradação do palco onde é encenada

A luta, que remonta à noite dos tempos,

Entre o Amor, o personagem principal da Gênese,

E a Ganância, a personagem principal do Apocalipse,

Que por não conseguirmos conceber,

Também não podemos controlar.

A maior prejudicada pelo capitalismo predatório

— Sem comprometimento com a sustentabilidade —

É a escritora realista de toda a História,

A genitora universal de todo homem,

De toda cor, raça e nacionalidade:

A Mãe Natureza.

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 10/09/2015
Reeditado em 13/09/2015
Código do texto: T5377853
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