Nossos lados

A chuva mansa

acarinha com cuidado

o solo

e a Primavera

que chegou “ontem”;

cheia de bagagens

e projetos, ainda em

botão ou no ventre...

Na serenata da madrugada

cantou minha nota chave,

abriu minha fortaleza...

Que encontro comigo mesma!

Produziu quietude

deu voz às coisas de dentro...

que não falam;

sussurram, recitam!

Deixou-me pensando

neste cuidado,

que nem sempre

dou conta de ter

e que poucos têm,

com a bagagem

e com os ouvidos

do outro.

Então amanheceu

e vieram os

trovões, relâmpagos

fazendo barulho!

E a enxurrada...

deixando sulcos na terra,

botões sem futuro

verdes caídos

perfumes extraviados...

A impulsividade

marcando sem pensar...

O casal de tucanos,

no galho que não alcanço,

contempla e espera...

Depois da explosão,

saciada e de súbito:

para! A chuva!

Um silêncio fundo

ecoa na floresta...

- Ah! O que foi

esta destemperança?

O casal voa.

Folhas cansadas,

deslizam os excessos:

gotas coloridas

que se desprendem

sem pressa, atentas...

Quem viu? Escutou?

Aprendeu?

Quem vai olhar,

curar as feridas?

Nossos lados.

Extremados.

Maisa Schmitz
Enviado por Maisa Schmitz em 07/10/2015
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