Quem é o Inimigo?

O dia já desponta com o sol por trás do morro de capoeira

O dia que traz a alegria, traz a faina, e o ferro do fervente labor.

O sol que vem com ele traz também a poesia, a esperança e o aleijo.

O morro quer esconder o dia por isso esconde o sol, mas qual! Nada jamais o pararia.

A capoeira não é uma dança, mas alimenta dois gados, um cavalo e uma jumenta mansa.

Os olhos do velho homem não se cansam e a sua roupa tem cheiro de mato,

Sua vida tem gosto de labor, seu caminhar já tem um aleijo, por causa da roçadeira.

O sol lhe doura a pele fazendo-o destilar. São milhares de gotas, do orvalho à chuva, agora me pus a pensar. Feito da própria natureza que o fez duro para a própria dureza, o lavrador molhado pela Chuva do destino que o fez agricultor, cultiva a terra de sol a sol obedecendo ao criador.

Ele lavra a terra sempre esperando a chuva cada dia mais escarça.

Afia o ferro, faz a seu próprio modo; marca a terra e lança mão da sua força, ele quer cortar.

Obstina-se no medo da morte, por medo de não sobreviver. Faz do seu ferro sua arma contra quem nada lhe fez. A natureza geme, no vegetal e no animal, da flora à fauna nada fica fora e tudo se há de morrer. Mas, e quando tudo morrer, como viverá o homem, e de que?