Minhoca
Olá minhoquinha, que vida
dura essa sua?
Afundada na ganga impura
Comendo barro e sujeira,
Todo o dia a vida inteira.
Não te enojas das imundícies?
Do cheiro nauseabundo,
Desse seu habitat imundo?
No leito podre em que vives,
Eu não duraria um segundo!
Meu caro, tu és obreiro,
Empregado e operário?
E te orgulhas do trabalho
De sol-a-sol, Janeiro-a-janeiro,
Do ordenado o salário, do suor frio
Do malho, dignidade e respeito?
Tua sina te assemelha à minha,
Triste minhoca!
Se é melhor, ou é pior, depende
Do foco, ou dá ótica.
Sou minhoca, aqui vivo e aqui morro
A cultivar eira e horta.
Um dia serei o adubo de uma leguminosa.
Mas sou dono, tudo é meu,
nasci para ser um arado.
Foi pra isso que Deus me fez
Bem pra isso eu fui criado.
E tu, com o teu patrão,
não te sentes humilhado?
Faz mansões e faz Castelos
Viaduto e até sobrado...
E a única coisa que é tua
São os pés dos teus chinelos
Rotos com a mesma lama, impura!
Que fabrico o meu telhado.
Seus filhos vestem os trapos
Por aqueles desprezados.
E as mãos que te acarinham,
Tem as unhas em frangalhos.
Dura vida, triste sina
de lacaio e de farrapos.
Assim tenho melhor sorte,
Por ter ao redor tanta fortuna.
Por só de Deus ser um criado.
Porque até na hora morte
Me enterrarei na fartura,
E só a Ele direi: Senhor,
Muito obrigado!