Minhoca

Olá minhoquinha, que vida

dura essa sua?

Afundada na ganga impura

Comendo barro e sujeira,

Todo o dia a vida inteira.

Não te enojas das imundícies?

Do cheiro nauseabundo,

Desse seu habitat imundo?

No leito podre em que vives,

Eu não duraria um segundo!

Meu caro, tu és obreiro,

Empregado e operário?

E te orgulhas do trabalho

De sol-a-sol, Janeiro-a-janeiro,

Do ordenado o salário, do suor frio

Do malho, dignidade e respeito?

Tua sina te assemelha à minha,

Triste minhoca!

Se é melhor, ou é pior, depende

Do foco, ou dá ótica.

Sou minhoca, aqui vivo e aqui morro

A cultivar eira e horta.

Um dia serei o adubo de uma leguminosa.

Mas sou dono, tudo é meu,

nasci para ser um arado.

Foi pra isso que Deus me fez

Bem pra isso eu fui criado.

E tu, com o teu patrão,

não te sentes humilhado?

Faz mansões e faz Castelos

Viaduto e até sobrado...

E a única coisa que é tua

São os pés dos teus chinelos

Rotos com a mesma lama, impura!

Que fabrico o meu telhado.

Seus filhos vestem os trapos

Por aqueles desprezados.

E as mãos que te acarinham,

Tem as unhas em frangalhos.

Dura vida, triste sina

de lacaio e de farrapos.

Assim tenho melhor sorte,

Por ter ao redor tanta fortuna.

Por só de Deus ser um criado.

Porque até na hora morte

Me enterrarei na fartura,

E só a Ele direi: Senhor,

Muito obrigado!

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 04/01/2017
Reeditado em 27/01/2017
Código do texto: T5871987
Classificação de conteúdo: seguro