FEITO DE BARRO

*Feito de*Feito de Barro*

_(Ricardo Milhomem)_

As ruas por onde passo me esburacam.

Sou mais completo de saudade do que de abraços.

O sol tem mania de dar cor a tudo.

As arvores tem pressa quando estou viajando.

Não vou pra onde não posso inventar,

Nem para onde já me inventaram.

Os buracos da estrada estão cheios de chuva usada.

Sou lento para gastar os dias,

Uso um de cada vez.

As ruas por onde passo me esburacam.

Sou mais completo de saudade do que de abraços.

O sol tem mania de dar cor a tudo.

As arvores tem pressa quando estou viajando.

Não vou pra onde não posso inventar,

Nem para onde já me inventaram.

Os buracos da estrada estão cheios de chuva usada.

Sou lento para gastar os dias,

Uso um de cada vez.

Tem tanta poesia na poeira da terra quanto no azul do céu.

Talvez por isso eu seja metade de barro e um pouco de vento;

O resto é água da biqueira.

Tenho um poema com o canto dos pássaros;

O curió fez o refrão.

Não consegui prendê-lo num livro.

Tive que publicá-lo de manhã nas folhas da laranjeira.