milagre ou missão?

Comecei subir a montanha toda verde.

Menino, adolescente. Fruta pra fome, fonte pra sede.

Caminho de pedras, íngreme demais.

Desafio das pernas, num esforço audaz.

Ilusão de ótica, expectativa da ânsia, desejo forte.

Caçadores praticavam genocídios silvestres.

Ouvia-se, ao longe, o eco estonteante da morte.

Continuei escalando, me lembrando dos mestres.

Cuidado com o mal feito,

pode ficar de maneira que não tem jeito.

Assim como sopra canções para o ar,

o vento, também faz o fogo se alastrar.

Pelo percurso, entre conflito e desacato,

por matas maltratadas pelo homem sem nome,

o mesmo que caça por prazer e não por fome,

deixa fogueira soltar faísca, queimar o mato,

encontrei, num atalho, uma áurea que brilha.

Subia, desde menina, com lata d’água na cabeça.

Tamanha garra fez-me segui-la na trilha.

Força advinda para que eu nunca me esqueça.

Cuidado com o mal feito,

pode ficar de maneira que não tem jeito.

Assim como sopra canções para o ar,

o vento, também faz o fogo se alastrar.

Então a subida ficou mais divertida, aprazível.

Dividida a bagagem, a viagem fica incrível.

O tempo, que não para, deixou marcas na estrada.

Nada, comparado ao ser humano na desmatada.

Unimos nossas forças e chegamos lá no cume.

A vista, que já foi mais linda, agora a cinza se resume.

Descemos cabisbaixos, lágrimas embaçam a visão.

Devemos repensar tanta coisa, seria milagre ou missão?