Lamentos Xinguanos

Quando vi a onça fugindo

O tatu abatido

A paca espantada

O veado humilhado

A cobra esmagada,

Chorei!

Pasmei!

Ao ver o agricultor expulso

O pescador sem peixe

O caçador sem caça

O homem do campo sem campo

O ribeirinho sem beira

O sol sem praia.

Assustei-me!

Com o rio sem ilha

Com o anzol sem peixe

Com as famílias dispersas

Com árvores tombadas

E as campanhas educativas:

Preserve o meio ambiente!

Pranteei ao ver

Máquinas destruindo histórias

Nosso povo como retirantes

Reaprendendo viver em um novo espaço

Onde árvores são pedras

E a terra, solo-asfáltico.

Ouviram - se gritos de lamúrias

Em peitos retumbantes

A onda do progresso

Ilude nossa natureza

E nos encanta com seu mórbido canto!

Adormecemos em pesadelo.