Entardecer

O dia por hoje se cansou de ferir o homem do campo

Que empunhou sua roçadeira, foi à sua aguerrida faina

Calejar suas mãos, dorir seus lombos, enfadar seu corpo,

Marcá-lo de sol a sol, mas como o homem, o sol também se cansa

É tarde na minha cidadezinha, é tarde para se trabalhar a eira

É tarde para continuar, é tarde, hora de se sentar à porta

Balançar na cadeira de balanço tomar cafezinho, de conversa ligeira

É tarde, cuida moço, tome seu banho para ir à escola.

Por aqui é assim, trabalha-se muito e quando se cansa, vai à escola.

Hum! Que cafezinho cheiroso. Dona maria sabe o ponto certo, nunca erra. E o sabiá sentou da palmeira já querendo cantar.

É tarde, o sol se despede por hoje, não sei se o verei amanhã!

Meu sabiá faceiro, escolheu o melhor galho, projetou-se de fronte

Próximo à porta da cozinha, de cá o vejo só, como o sol solitário

Deita-se no horizonte, sem ter com quem conversar; e o meu sabiá, canta a sua despedida, eu quase choro, ao seu terno cantar.

Seu canto me fala de uma lembrança, das lembranças de cada dia

Que até parece um século o raiar de um novo dia. Mas ele morre feito grão nessa terra, morre todo dia e germina na calada da noite, para triunfante ressurgir na aurora a esperança de outro dia.