Floruna

Ela, mesmo que pensem isso,

não é submissa...

e do seu jeito mostra a todos que não.

Seu grito por tantas vezes parece

com o ronco do velho Ford 1970.

E sim, ela grita sem ser histérica...

pois gritar ainda é uma forma de despertar

a atenção de outros.

Seu modus operandi é contestado por muitos...

Dizem: está descontrolada!

Porém há quem a defenda e diga que não.

Ela quando mexe com a água ou com o solo, quase todos sentem.

É... ela nada tem de submissa,

mas há os que achem que ela seja...

e a exploram.

Há campanhas para que, em uníssono, a respeitem.

Petições que imploram para que mantenham seu virtuosismo.

Há reação contrária, os que riem

e seguem a mesquinhez de suas vidas daninhas.

Chamá-los de cretinos talvez seja xingar mais do que meio mundo e meio...

e um quase que inteiro, se presume.

Ela ainda sorri,

de uma maneira que só ela pode.

E brinca entre suas plantas...

que imenso jardim ainda é o dela.

Ah, dama senhora, e por vezes tão menina... tão bondosa a oferecer tantas coisas.

Talvez um dia entendam, quando ela,

sapateando em meio a chuva,

dê seu ultimo grito...

algum parecido com o trovão,

e não mais como o velho Ford 1970.

E esse seu grito,

talvez venha junto com os gritos de quem a muito zombou:

Por favor, Mãe Natureza,

tenha piedade de nós!

Floruna

25-11-2018

23h23min

(Murillo diMattos)

Ao som de:

A Saga da Amazônia, escrita há mais de 30 anos, é, sem sombra de dúvida, uma obra musical visionária: tentou (e ainda tenta) alertar a sociedade para os perigos do desmatamento na Amazônia de ontem e de hoje, convidando a “gente de valor” para lutar pela preservação da Floresta.

Saga da Amazônia

(Vital Farias)

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta

Mata verde, céu azul, a mais imensa floresta…

No fundo d’água as Iaras, caboclos, lendas e mágoas

E os rios puxando as águas…

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores,

Os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores…

Sorria o jurupari; uirapuru, seu porvir

Era Flora, Fauna, Frutos e Flores.

Toda mata tem caipora para a mata vigiar!

Veio caipora de fora para a mata definhar

E trouxe dragão-de-ferro, pra comer muita madeira

E trouxe em estilo gigante, pra acabar com a capoeira…

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar,

Pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar…

Se a Floresta, meu amigo, tivesse pé pra andar,

Eu garanto, meu amigo, no perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar.

E o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?

Depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar…

Igarapé rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar…

Mas o dragão continua a floresta devorar…

E quem habita essa mata, pra onde vai se mudar?

Corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá;

Tartaruga, pé ligeiro! Corre, corre, tribo dos Camaiurá.

No lugar que havia mata, hoje há perseguição.

Grileiro mata posseiro, só pra lhe roubar seu chão…

Castanheiro, seringueiro, já viraram até peão.

Afora os que já morreram como ave-de-arribação.

Zé de Nana tá de prova, naquele lugar tem cova,

Gente enterrada no chão…

Pois mataram índio, que matou grileiro, que matou posseiro,

Disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro roubou seu lugar…

Foi então que um violeiro, chegando na região,

Ficou tão penalizado, que escreveu essa canção

E, talvez, desesperado com tanta devastação,

Pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção…

Com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa

Dentro do seu coração.

Aqui termina essa história para gente de valor

Pra gente que tem memória, muita crença, muito amor

Pra defender o qu’inda resta, sem rodeio, sem aresta…

Era uma vez uma Floresta na Linha do Equador…

Murillo diMattos
Enviado por Murillo diMattos em 26/11/2018
Código do texto: T6511975
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.