Querela Florestal

Belém, 30 de abril de 2021.

Hoje e sempre minha vista

Em Paisagem Florestal

Olhos árvores

Ouvidos pássaros

Intuição formiga subindo nos galhos

Quietude de me aconchegar na minha vó

Todas as avós

E certos avôs

Daqueles que não garimparam vidas

- Mas seu moleque, que tu serías sem a tábua? Sem o lambril? Sem o esteio?

- Não, não, tu não enganas mais!

Não despenco mais no abismo de tuas frases rasas

Hordas que saem da tua boca a serviço dos tiranos

Vestidos de ciência despidos de consciência

Que promovem cemitérios lenhosos

Que tornam raquíticos os bosques

Para o estrangulamento da corrente

Para a labareda da estupidez

Não! Não escuto mais Raposo Tavares

Não! Pizarro não me escravizará a mente

Eu sei o que tu pensas

Eu sei de tua sede doentia

Eu entendo agora onde te escondes

E tu não escaparás

Te colocarei no banco dos réus

Os réus serão bancos

E o fetiche instrumental será vergonha

Da cortina arredada pra ver tua máquina

Que esmagou a infância na sua esteira tonelada

Que perseguiu o beija-flor que apagava o incêndio

E que bicava em resistência os matadores

Passarinho há de voar

Por cima das copas do ipê florado

O ouro rodopiando a cair na rama do acapu

Que espiava lá em frente a muda de mogno

Plantinha do tamanho do meu sonho

Que será gigante realidade da nova geração

A geração que como a Floresta

Ficará em pé.