O Pássaro Cativo

"Armas num galho de árvore

o alçapão

E em breve, uma avezinha descuidada

batendo as asas

cai na escravidão

Dás-lhe, então, por esplêndida morada

a gaiola dourada

Dás-lhe alpiste, água e ovos e tudo

Por que é que, tendo tudo

há de ficar o passarinho mudo

arrepiado e triste, sem cantar?

É que, criança, os pássaros não falam

só gorjeando sua dor exalam

sem que os homens os possam entender

Se este pássaro falasse, talvez os teus ouvidos escutassem

este pássaro dizer:

Não quero o teu alpiste

prefiro o alimento que procuro na mata livre

em que voar me viste

Tenho água fresca num recanto escuro

da selva em que nasci

Na mata entre os verdores, tenho frutos e flores

sem precisar de ti

Não quero a tua gaiola

pois nenhuma riqueza me consola

de haver perdido aquilo que perdi

Prefiro o ninho humilde, plácido e seco

construído entre os galhos das árvores amigas

Quero ao cair da tarde

entoar minhas tristíssimas cantigas

quero saudar as pompas do arrebol

Com que direito à escravidão me obrigas?

Solta-me covarde!

Deus me deu por gaiola a imensidade

não me roubes a minha liberdade

Quero voar, voar...

Estas coisas, criança, o pássaro diria, se pudesse falar

E a tua alma tremeria, vendo tanta aflição

e a tua mão, tremendo lhe abriria

a porta da prisão."

Olavo Bilac

Olavo Bilac
Enviado por Ranon Machado em 30/06/2021
Reeditado em 21/09/2021
Código do texto: T7290057
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