Elogio da terra

Escombros de longas eras, remexidos, aquecidos pelo calor do Sol

Tombados restos mortais de antigas vidas fertilizam o chão

Um novo ciclo chega, quando há muito outro declinou

E de novo o chão há de dar vida a novas formas, que

da rudeza desse chão, dão flor, fruto, sombra e açúcar

Terra ancestral em constante mudança, várias feições, vários rostos

estavas aqui antes de mim, e depois de mim estará

Teu filhos ruminam sobre ti, te esquartejam, praguejam debaixo do Sol

eles cospem sobre ti, mas você os engole

eles pisam sobre ti, e você os cobre

Da terra forma a planta a seiva, da água e dos minerais

O sangue sorve a vida que há, que sobre a terra se formou

O sangue é muito que a terra testemunha

Mas daqueles que a ela vieram, de nenhum, ela desdenhou

Quantos filhos pare a terra, diferentes destinos que se desenrolam

Alguns mudos lhe acompanham, a surra da chuva, do ar e do Sol

Mas com insistência triunfa a vida, que se ergue feito monumento

Outros dos sofrimentos do tempo se escondem, a sombra dos primogênitos

Alguns que bramindo muitas dores e ais, se encastelam, se acautelam,

e produzem todos os tipos de artifícios, buscando estarem satisfeitos

Quão fundo pode-se cavar? Os milênios desabam ante as mãos dos homens.

Restos de antigas passagens, caminhos que secaram, relíquias que a terra guardou

Mas disso faz pouco caso : o vento que leva seus grãos é tão passageiro

quanto o labor dos filhos, que aqui brincam, pensando que são eternos

Eternos?! Eternos?! Pensam que são eternos. E perdem o ar. A sombra. A água.

Perdem tudo, mas não perdem o orgulho.

E por fim a terra os acolhe, fatigados de suas lutas.