A natureza responde
Arapongas de canto triste!
Taturanas do meu jardim!
Ao Brasil veio um chapim
Devastador do nosso alpiste.
Bravas tribos do Xingu!
Ananás adocicado
Ou abacaxi caramelado ?
É tudo índio de olho azul!
Seriemas de Guimarães!
Capivaras dos Matagais!
Parecem mulheres do cais
Sem querer, virando mães.
Alegria da bicharada,
Coitos mil, primaveris,
Natalidade descontrolada,
para encher uns dois brasis !
É tanta boca aberta
esperando minhoca,
Refeição é coisa incerta,
Mas no mato tem mandioca
Tuiuiús não-sei-de-onde !
Sabiá desmiolado
Cantou no pé errado,
Colonizador perdeu o bonde.
Nunca ouvi sabiá gorjeando,
muito menos nas palmeiras;
Pia o bicho nas laranjeiras,
estaria o poeta delirando?
Belos rios tem minha terra,
Só que os peixes naufragaram,
Milhões de árvores tombaram,
Desnudando a linda serra.
Eu nasci no Ipiranga,
à beira das margens nada plácidas,
Hoje em dia elas são fétidas
E não cresce um pé de manga.
Não suporto o ufanismo
Desse povo desatento,
Quem não tem conhecimento
logo se apega ao narcisismo.
Que alegria é jogar bola!
Contagiante o carnaval!
Enquanto a gente se dá mal
O governo nos enrola.
Que país continental!
Que enorme a nossa área
Que não tem Reforma Agrária,
Que gestão débil-mental!
Que bonito é o sertão,
Que potência é o sudeste
Onde todo cabra-da-peste
Vem cheirar poluição!
Lindo céu tão azulado,
Lindo céu desprotegido,
Lindo céu tão poluído,
Lindo céu carbonizado...
Chuva ácida e impostos,
Despencam do lindo céu,
Desperdiçamos nossos votos,
Com um infeliz tropel.
Fuligem do progresso
E pó de asa de barata
Esparramadas no pacote,
Das idiotices e contas a pagar,
Estamos indo, é quase certo,
Só não sei aonde vamos
Veja o ar que respiramos,
quase dá para pegar!
As estrelas que não vemos
ainda brilham em algum lugar,
Bem longe desta vida que levamos
E que terminará por nos matar.