GOTAS DE AMOR
É apenas a materialização da umidade adensada
em névoa e seu suave e invisível flutuar
gotejando lentamente sobre as plantas,
banhando as folhas, acariciando as flores, umedecendo a madrugada. Sob o silêncio da vida adormecida.
Algo mágico, indizível cenário e palco inimaginável
para quem destoa das nuances dos devaneios, aqueles incapazes de enxergar poesia até mesmo na própria poesia. As gotas de orvalho caindo serenamente enquanto o mundo dorme
e os homens sonham sorrindo
ou têm pesadelos suando,
sugere aos céticos somente um entendiante fenômeno físico sem graça.
Não para os que possuem na alma o poético dom
de ver a beleza escondida mas linhas e entrelinhas, não para os poetas, e nem tanto somente eles,
porque a dádiva de vislumbrar o que é belo
num amontoado de simplicidade ou em plagas desertas é um maravilhoso privilégio
dado a poucos.
São minúsculas as gotas de orvalho,
porém muitas, e se espalham alegremente,
e voam ao bel prazer da brisa em todas as direções,
e aterrissam como aviões de faz de conta,
e se juntam formando pocinhos nas folhas,
nos galhos e nos troncos.
Uma só já seria motivo de lirismo;
incontáveis como normalmente sói acontecer
vira belo poema de ricas rimas.
Reunidas e alvoroçadas,
parecem dançar abraçadas ao ritmo de uma melodia ouvida somente por elas,
tendo por coral os grilos e o coachar das rãs,
o salão são as folhas,
os galhos sassaricando são a platéia aplaudindo,
e as árvores são os pilares sobre os quais se equilibram até a chegada da alvorada,
quando então os pássaros,
dormindo em seus ninhos,
despertam e bebem ávidos
as doces gotinhas a partir de então
em cândido repouso
As gotas de orvalho, aos olhos do poeta,
lembram pétalas soltas das flores,
aquelas oriunda da água vinda das nuvens,
estas dando a ideia de blusas rasgadas
na ânsia do desejo incontrolável em casais
que se amam e são aversos aos preconceitos
quando às quatro paredes da alcova;
umas caem sobre as maravilhadas folhas,
já outros despencam em alegria
na cama acolhedora.
Amando-se.