Lua
Escrevo esses versos
durante o eclipse lunar
de 16
do 05
de 22
enquanto as nuvens sob minha cabeça
me impedem de ver
esse milagre dos céus
esse milagre astronômico
Nuvens bobas e sacanas
que provavelmente vieram do nosso suor
ou qualquer coisa nossa
Sacanas, já que
me privam da glória
Escuto a música "Lua" de Jacob Collier
já que a letra combina prototipicamente com o momento, ou não
já que ela é bem romântica
e esse momento não
já que nem dá pra ver o astro
Agora deu
espere um pouco
*
Foi bem rápido
eu deitei no chão pra ver melhor
não deveria
o chão da área externa
não é o melhor lugar pra deitar
principalmente
com essa roupa
É que a lua tá bem em cima da minha cabeça
e tava ficando difícil de ver
entende? Doia a cabeça
p.s: botei a música pra repetir aqui
Poxa, essa nuvem tá bem grande
e devagar
Poxinha...
Parece que ela não vai voltar...
Vou descrever
o que vi até aqui
já que ninguém consegue
tirar uma foto boa
com um telefone comum, ou não...
Parecia uma bola mesmo
3d
redondinha
um ciclope
Aquele bichinho do Star wars
Com uma faixa brilhante na ponta
que parecia uma espécie de olho
algo que personifica
Opa
voltou
pera...
*
Alarme falso...
*
Algo que personificava essa bolota milagrosa
e a fazia parecer aquele bichinho do filme
A música continua tocando
contrastando a frieza do momento agreagada à pequena dor no pescoço
com a magia de questões de física
e os efeitos harmônicos da prosódia lusitana raiz
Agora
que a lua parece mais
com a lua diária
me permito
fechar esses versos
e voltar pra cama
quem sabe um berço
pra novos versos
"... Tomorrow Will come
You will wake and you will see... "
ps: ainda sendo mais prototípica
e parecida com a
lua do dia dia
ela ainda é gloriosa
a Lua é gloriosa, glamurosa
ps 2: Lua já foi um apelido meu
uma espécie de codinome
em brincadeirad recorrentes
Eu não me importaria
de ser chamada
assim novamente
"See the lights..."
See the lights!
***
Esqueça tudo que eu disse
ou quase todas as coisas
Eu amadureci 500 anos agora
Pesquisando sobre o eclipse eu percebi que ele ainda estava rolando
e resolvi voltar pra ver
Eu voltei
E percebi que agora sim ele estava ali
nem tão vermelho, mas estava
E percebi que o que eu tinha descrito até ali era só um prenuncio
um startup da glória magnífica
Eu amadureci 500 anos
e então, agora,
deitei mesmo pra ver
e mudei a música:
"Montreal" de Os arrais
Já que
estava na mesma playlist de "Lua" e parecia combinar com o momento
Deitei e apreciei a vista
ainda odiando as nuvens
que impediam cá minha visão
inveja pura, eu confesso
Fiquei ali ouvindo a música em loop
que fala de glórias eternas
da esperança de uma vida infinda
de anseio por existências estupendas
Com essa vista
Vou tentar descrever mais uma vez
Uma bola vermelha
não tão vermelha como sangue
um vermelho alaranjado por demais
que traz a ela a possibilidade de comparação a uma laranja enorme flutuando no espaço
ainda 3d
com depressões visíveis ou imaginadas que a faziam perder o formato prototipico de bola redonda
As nuvens ainda impedem minha visão
eu as odeio
mas, eu amadureci 500 anos
e aprendo a aprecia-las também
a forma como elas fazem parte de todo cenário
e o deixam mais divertido, já que se parecem com milhares de coisas diferentes até principes de época da Coreia
a mistura delas com as estrelas e a lua é perfeita
A friaca continua
mas agora pensando em beleza e na eternidade
tudo fica mais fácil, suportável, ou não.
A música roda
fazendo par os meus devaneios sobre esse astro tão peculiar
penso em como escreveria esses versos
quanto a lua deve ser pesada
como ela parece algum queijo que ainda não deve ter sido inventado, ou não
me lembro do último eclipse que vi
penso no quanto eu era pequena
e de como aquela laje não existe mais
Encerro o momento e a relação
depois de muita luta
e relutãncia, mas vou
na certeza de que virão novas superluas, eclipses e devaneios
sobre a eternidade
N.V - 16.05.2022
entre 00:35-02:10
em São Paulo, Brazil, Planeta Terra.