Ode à chuva

A água, que da Terra é o sangue,

flui por todo filete de chão e céu.

Ela em todo canto espreitou

e não há mistério que lhe escape.

Por todo ser vivente transcorreu,

e viu os íntimos de seus segredos.

Alimentou a todos

e vivificou toda ideia.

Estava lá quando a forma

à comum matéria caiu.

Viu a fúria com que deu

o homem o primeiro fôlego.

Conhece os mistérios profundos:

sempre escorrendo, nunca acaba.

Na chuva canta-nos

que a vida é sempre nova,

evoca na terra o sentimento úmido

das cantigas de árvores e grutas,

revela o segredo do hino

que proclamam os trovões.

Lembra ao mundo da ordem

maior que nos não obedece,

que a tempestade chega inevitável,

que é invencível a sua vontade.

Nos córregos da chuva

correm a poeira de castelos,

escombros de impérios,

resquícios de todos os homens.

Ela é uma centelha de eternidade,

caindo sobre nós por seu querer,

redimindo-nos, que seja,

ou destruindo-nos de todo:

ora calma garoa na alvorada,

ora fera tempestade na madrugada.

Estas águas que vertem nossos corpos,

e nossos rostos molha,

que nos lavam desde cima,

são mais antigas que o mundo.

Enilson Ferreira
Enviado por Enilson Ferreira em 10/12/2023
Código do texto: T7950878
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