Do berço, a maturidade!
A velha roda da água
O moinho, e a lamparina
E o lago que envelhecido
Espelha minhas cãs...
Saindo da rotina...
Lembro-me com clareza
De que minha juventude
Ultrapassou minha infância,
Mas meus desejos resistem
E são mais fortes que as rugas
Ornando minha face
Trazendo estampada a saudade,
Tão longínqua, mas perto como um beijo
Que sinto com o vento
Assobiando a folha de embira
Lembrando-me de tua vós,
Deitada na grama verdejante
Que deixou espaço aos arbustos
Com os anos desenhados nas folhas
Quebradiças e secas...
Como meu coração...
Não suportando o que os olhos relembram
Sento-me no velho toco de tarumã
Que parte já virou húmus,
Assim como meus pensamentos...
Lagrimejando as memórias
De um tempo que se foi
E nem voltam mais,
Lembrá-las me trazem forças
Junto ao meu amor
Convictamente de que sei
Que foram os anos que passaram,
E tudo serviu para amadurecer-me
Como cada folha seca...
Que o vento quebranta
Com farfalhas de minha presença,
Não bastando às lembranças
Tento cavá-las da terra úmida
As respostas que me trouxeram
Mas que o tempo encarregou-se de apagar,
Eram meados de janeiro
Quando deixei minha terra
E parti para a cidade grande
Logo no primeiro instante,
Meus olhos se cobriram de saudade
Mas no pensamento
Uma vida nova me prometia
E a distância aumentava,
Já sem ouvir os pássaros e seus cantos
Avistando arranha céus
E até o azul do céu
Não era o mesmo que eu conhecia,
Os meus olhos procuravam...
Verde raramente se via
Até o vento não tinha onde farfalhar
Nos paredões, se esquiva a surfar,
Mas meu instinto se cobria
Do instante de chegada
E ver com meus olhos
O que se esperava...
E logo o mar se ouvia
Como trovões nas montanhas
E na minha face sentia
Uma brisa com cheiro de sal,
Diferente das serras e montanhas
Que embriagam com perfume de flores
E o vento farfalha
Como assobios de inhambu,
Mas quero deixar o passado nas lembranças
Hoje restam apenas as saudades
Que apago com visitas
A minha terra como turista!
Do berço, com os pés na terra
Pela juventude, a correr para o mar
Ancião, na cadeira a balancear
No ócio, relendo a maturidade.