HORAS NOTURNAS

HORAS NOTURNAS

Quando bate a modorra,

reluto incansavelmente

para não sucumbir á efêmera morte diária

a que me impõem os contínuos breus dormentes,

os quais me fazem jazer sobre a cama

do esteio da velha solitude teimosa

que comigo aporta nesta alcova nova.

porque quero muito ficar

ao sabor do fraternal masoquismo

dum recente relicário

de rios que inexplicavelmente sem sentido se esfumaçam:

afinal sem saber-se refluentes.

Sem saber se exatamente poderão talvez um dia desses

voltar á sua congênita forma.

No entanto, eu bem sei: eles não são molas!

Ah, me pego subitamente

afogando-me nas águas profundas do divagar

onde alfobram o titanismo

e seus devotados miasmas garridos.

Entretanto, uma vez mais,

para o quarto retorno. Me fixo na janela

a contemplar o fluir e o refluir das relíquias fraternas

que, na estrada saudosista da memória, perpassam lépidas.

Sim, então, sob o peso da dor, sobre o leito, desmaio.

Com efeito, sob o peso das águas que não jorram,

no catre, eu mortamero cansado!

Cansado de olhar o rio que corre. Corre cheio de desapego:

desapego ao passado ainda tão claro.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA