ânfora partida

Essa ânfora deitada

De barro fosco

Antiga e seca

Das águas que se foram

Essa ânfora de asas abertas

Querendo voar

Em líquido céu

Essa relíquia

Que guardou segredos

Molhou bocas

E palavras em degredo

Velou em silêncio

Colocada no canto superior

da sala

por todo ambiente.

Posto-me diante

Da ânfora

E me despeço

Meus olhos irão embora

Minha sede interminável

Inexplicavelmente

Terminou

Como terminou o caminho

a seguir

agora senhora

me arrependo da menina

e da moça que fui

das caçoadas, das bonecas quebradas

dos cavalos que galopei.

Lá fora, aguarda-me o vento

Incontida brisa

Que veio de lugar nenhum e

Vai para qualquer lugar

Há uma angústia expectante

Um silêncio que mora entre as palavras

E se esconde nos fonemas

Abafados de sua voz.

É tarde agora,

E permaneço deitada

E, vem na memória

Aquela ânfora

Lembro ainda de sua rachadura

De sua base trabalhada e talhada

Por mãos artesãs

Tento ouvir aqui

Quieta meu coração

Que se derrama em meus

Pesamentos

Que oscilam qual um pêndulo

A compassar o infinito

Momento de não mais voltar.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/06/2008
Reeditado em 25/06/2008
Código do texto: T1018213
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