A ALQUIMIA DO VÁCUO

A ALQUIMIA DO VÁCUO

Perdido entre o ente da palavra

E o ente de mim mesmo,

Vagueio pelas alamedas

Da minha mente em silêncio.

Não me acho em seus dédalos:

Para olvidar o fel que me aflora

Do jardim da frustração,

Sorvo incolores goles de água com inerte sofreguidão.

Ouço na TV o depoimento

De uma sentinela do altruísmo

Que livrara a tenra prole das Marias Davidosas

Do Mestre dos Jardineiros que cultivam

A floresta das Açucenas do genocídio.

Nos derradeiros tempos,

Me ponho a querer deslindar

Como perpetuar em minha mortal vida

Os sortilégios da solitude,

Pois agora tenho medo

Que um dia ela mais não queira

Ser a dona do trono de meu ego-firmamento

Por estar cansada de fazer-me da pessoa

A sua mais suntuosa vivenda emancipadora.

Ah, o quão este medo me consome:

Passo noites em claro

Procurando e, ao achar,

Esmerilando na fonte dos ascetas

A imponente e inefável alegria,

Contida no doce reverberar inane

Da melancólica fulgência

Da acuidosamente calcinante secura poética.

Não, não almejo ser

A miraculosa fotossíntese fecunda.

Não, não quero ser o timoneiro

De uma frota de naus maninha ou profusa

Ah, eu desejo é andar livremente

Pelas ruas da refratária ventania

Que povoa e molda a vontade do meu inconsciente,

Preso no velhaco calabouço da puritana hipocrisia.

Ah, eu quero é seguir o rastro

Da Manuelística Estrela Unitária.

Eu quero é me enlear no absoluto nevoeiro dos albatrozes

E libar do peculiar elixir do ser sozinho por inteiro, inconsútil,

Filho das soturnas tenazes da opacidade!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA