DÁI-NOS ALMA, SENHOR!
DÁI-NOS ALMA, SENHOR!
Ceres Marylise
Lágrima escondida na clausura
Dos olhos já cansados do infinito.
A que não cura o silêncio e a amargura.
Que não é queixa e não emite um grito.
Aquela que não dá trégua e consolo.
A que fere, obceca e atormenta.
A que não tenta mostrar-se e ficar nua
E faz a pena interminável e lenta.
Cântaros secos a assomar aos olhos
Estáticos, vazios e sem brilho.
Que enche o coração e o consome
Na dor que chega sem mandar aviso.
Manancial retido na garganta
Que no silêncio do ser não se dilui.
Onde não nasce o alívio da esperança
Mas sempre vem aos olhos e não flui.
A que não podem ver porque escondida
Na angústia incessante e rotineira.
É preciso meu Deus, que haja alma!
Mas muitos não têm alma para vê-la.