Pode ser que seja tarde, cedo, ou devasso demais

Noutra vez pediram para Deus um pouco de malandragem.

Disseram que eram crianças e não conheciam a verdade.

Malandragem é uma verdade.

Malandro que é malandro, é malandro demais, mas aí já é Otto caso.

Quem sai de um quartel, se sai bem em qualquer bordel.

Sentaria na poltrona branca de almofadas vermelhas, para ficar sagaz com a própria ignorância.

Ou quem sabe, fingiria - e finjo, uma Pessoa já não disse que o poeta é um fingidor ?

Da dor finge.

Dor dá fingimento.

Salto alto machucam os pés, quero não.

Descalço é melhor.

Pés desnudos são malandros, sabem pisar na terra, no algodão, e em cacos de vidros.

Também faço como eles, também vou pedir malandragem para ti, meu Senhor.

A sábia agilidade do gato sagaz.

A esperteza dos ladrões de moedas nas igrejas.

Juntinho com as opiniões pueris.

Lado a lado com a pressa do puxador de carro.

Pode não ser real, aquela velha visão embassada.

Pode ser que seja tarde, cedo, ou devasso demais.

Ludmilla Castro
Enviado por Ludmilla Castro em 13/11/2008
Reeditado em 15/11/2008
Código do texto: T1281482