MY LIFE, MY JAZZ

As vezes,

Sinto o pulsar da minha oxigenada e maravilhosa cantiga

Como uma acústica em desordem, uma sinfonia caótica, abortiva.

As vezes,

Ela é o ermo,

É a contraluz o tempo inteiro,

É a sádica miragem, o sereno desespero e a silente ferina tempestade.

Afinal, de quando em quando,

Ela é, enfim, o sequioso vácuo em esmagadora densidade

Em mim se assentando como o inamovível

Monólito da invisível voragem do ânimo.

Então, quando são vigentes estes dias,

contemplo ou mentalizo

Na humana Estrela Ígnea

Que me fez emanar

A centelha, a Opala, a Esmeralda, a Água mais Cristalina,

O Graal da Imensa Tela Celestina

E recobro a viscosa sofreguidão, a hialina fulgência em falta, perdida

No avançar momentâneo da dantesca névoa intermitente

Da desilusão de tudo.

Então, quando são vigentes estes dias,

Meus ouvidos degustam redundantemente

A garrida, fluida e indômita ventania saxofônica

De Charlie Parker;

Degustam redundantemente

As alamedas e esquinas

Da galhardia pianista de Duck Ellington;

Degustam redundantemente

A melancólica suavidade trompetista de Milles Davis;

Degustam redundantemente

A dor que floresce do azul das antigas

Plantações do algodão sulista

Ou da voz de Billie Holiday,

Fúria Fibrosa, Vulcânica Diva,

E digo:

Sou caô puro! Sou vácuo rarefeito!

Ah, mas a vida,

A vida é BLUES, É JAZZ,

A MAIS BELA E NOCIVA

AQUARELA DO CAOS QUE HÁ NO MUNDO!

Ah, mas a vida,

A vida é jardim de arco-íris

E de zinco que vocifera as vísceras dos vivos seres aqualinos!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA