009.

um poeta sem sua musa soa como

um baile sem música

um vinho sem alcool na noite sem lua

zero vírgula zero porcento de inspiração é o que me move

e agora já é dois do um

dois zero zero nove

e não há o que lamentar

não há o que temer

apenas deixar que venha

o que virá

e que seja indolor

que tenha a ver

com correr e buscar

moldar esse maya antes que ele me molde

eu vou destilar essas palavras

antes que elas me afoguem

e vou soprar pra quem quiser sentir

vou ouvir quem fizer questão de cantar

e correr quando alguem me esperar

deixar que me inspirem como ar

e percorrer as veias de quem quiser provar

invadir e envolver e depois

tirar a noite pra dançar

pedir que fique o quanto quiser ficar

me munir de empatia

agora não há porque brigar

seu reflexo sumiu do meu espelho

mas eu não me canso de olhar

algo ficou

algo sempre fica pairando no ar

como se não tivesse passado tempo

e fosse possível tocar

mas as velhas coisas bonitas

aquelas pessoas imperfeitas e tão nossas

já não ocupam os mesmos lugares

são agora devaneios e frases soltas

assimilações de imagens e sons

e aromas esvaídos entre outros milhares

sei que já me peguei parado esperando

algo que não ia acontecer porque já tinha acontecido

e foi triste dar-me conta que as páginas eram outras

ainda em branco

ainda em pranto

recomecei a escrever novos parágrafos

verso verso verso e pronto

bastava começar e não olhar pra trás

sem revirar o que poderia ser

simplesmente partir daquele ponto

mas sem mentir e dizer que não imagino

um belo reencontro

regado a café e novidades

livros velhos e novas sonoridades

Jack Kerouac e Sylvia Plath

e todo o resto que só pertence a quem quiser

tudo aquilo que me arrepia só de pensar.