O SOM E O SILÊNCIO
A voz e a mudez
Clarividência e a insensatez
O martelo e a bigorna
Ferro candente malhado
A mais não poder
Ferradura e ferreiro
Falópios espasmos
Expulsando a vida
Num silêncio profundo
Para o escárnio do mundo
De úteros úmidos, cálidos ninhos
Há gritos tão surdos
Doídos, paridos, partidos
O som e o sossego
Há na alma um silêncio a ouvir
Necessária ausência de vibrações
De quem está descerrado e recebe
Se exime de falar
Pois amor é suspiro, gemido e estertor
Sorriso impudico clamando por mais
Desamor é ausência, murmúrio e silêncio
Mas o amor pode estar também na calmaria
Pois cada palavra dita tolhe o espaço do outro
Rouba sua pausa, seu momento de solidão
Ensejo de expressão
Quem não ouve é algoz
De hiatos e respirações
Momentos de reflexão
Abster-se da própria voz
É doação, é saber-se pensando
Pois os pensamentos exigem silêncio
Apesar de prenhes de impulsão
Movimento é vibração e calor
Há também gritos nos sonhos
Esgares risonhos, insólitos sítios
Nos segredos há mais som
Que no corte de um dedo
Há ruídos harmônicos na pauta do samba
Esperando acordar
Ao acorde primeiro de um violão
Música é vida e também é amor
Feita de pausas, silêncios e sons.