Verdades Escolhidas

Houve um tempo

Em que tudo era mais simples

As incertezas, invisíveis

E o riso, meu amigo

Hoje o tempo

Me cobra, me tributa

Qual suave prostituta

Me procura enredar

Houve um tempo

Em que erros eram ciscos

Não corria nenhum risco

De cair e machucar

Hoje o tempo

Me enrola, me assola

E nem ao menos dá bola

Se estou a lamentar

Houve um tempo

Em que eu sabia o que dizer

O que era certo se fazer

(Mesmo que fosse morrer)

Na intempestiva esfera

De um coração besta-fera

Ou num escuro porão,

(um oculto alçapão)

Pra onde sem esperar,

Se cai e vai encontrar

Ossadas de vidas passadas

Boas intenções malogradas

Claviculário de almas penadas

Hoje provado está

Que a verdade que se dá

Nem sempre é bem recebida

(Mesmo que por si acolhida)

Há quem a vá renegar.

E a prefira trocar

Por um sorriso obscuro,

Um rosto que só sorri

Uma promessa de no futuro

Ter-se só o que quer ouvir.

Houve um tempo

Em que não era assim

Hoje o tempo

Ensina essa lição pra mim.