O novo, o velho, e o tempo

Quando se cansa o novo,

E acorda o velho, e de novo

Este se põe, contente a dançar

Há um momento de questionar

Ainda que, movido pela curiosidade

Onde está o tempo, de verdade?

No cansaço tão cedo, deste

Ou na falta de medo, daquele?

É no olhar do preocupado?

Ou na alegria do conformado?

Onde está o tempo, onde mora?

Vive no correr do ponteiro

Ou no singelo poleiro das horas?

No seu ponto de descanso

Onde o velho tem seu remanso

E o novo teme chegar...

Onde se esconde essa entidade

Tão cruel e tão tirana,

Mas que se tira sua fina membrana

E se deixa ver o seu próprio reverso

Sabe-se que não é em ano ou semana

Nem em dias nem prazos,

Que se suporta da vida,

Seus incontáveis atrasos,

As suas juras desfeitas

Os momentos que se foram

E todas as frases feitas,

Não é.

É num momento como esse,

Em que se apercebe da escolha

De viver livre com o tempo,

Ou de prender-se na bolha,

Não vá.

Não escolha errado, ou se escolher

Entenda o seu erro, procure saber.

Que é pra amanhã ou depois,

Quando estiver velho a morrer

Saber que entre nós dois

Houve um acordo a fazer:

Ou correr contra o tempo,

E dele perder...

Ou fazer as pazes com o tempo...

E ter o tempo, até pra perder.