Descontraindo

Olhando tudo que estava, meus olhos fuçando frestas,

desnudando o que mais queria, um mundo sem portas;

a alma tentada a se jogar na nuvem branca desavisada,

entre ansiedade do ir e o ficar planejando uma queda,

cantou rápido a canção dos marujos beirando as matas:

nas mãos dois remos, a cabeça escalando um coqueiro

e lambuzando os beiços de água de coco, um altaneiro.

Meio mágico, do alto entendia o que se convertera

nos meus últimos séculos, numa corrida verdadeira

de obstáculos em direção ao nada; o vácuo tateava,

mão voltava vazia ao mesmo lugar que a algemara

e tudo permanecia maciço da maneira que deixara;

redescobri aversão à alienação que o progresso leva:

faz o paranóico irreversivelmente viciado sem tento

contagiar a quietude perfumada com sua inquietação

que deturpa e esmaga a criatividade e êxito na ação;

Mais a mais, ausentar-se por uma causa especial,

a faxina mental saudável, não atrasa o giro da terra,

nem desvia o curso dos rios que a nostalgia soterra;

como Deus rege, tudo segue seu passo natural,

quando a mente acerta a hora pela natureza!

Grenoble-Fr-02/06/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 02/06/2006
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