O MENINO

Aquele menino,
A despeito da ditadura do relógio
E das rugas do espelho,
Insiste em viver.
 
Vez por outra,
Sai do CTI
E salta da maca da maturidade
Pulando, sorrindo, dizendo bobagens,
Fazendo molequices.
 
Outras vezes
Cai na opacidade,
Torna-se frágil
E desfalece diante da severidade
Do mundo e das pessoas.
 
Enquanto os antigos livros
Submergem no amarelecimento dos dias
O menino,
De vez em quando,
Traz à tona
Páginas novas, brilhantes, luzentes.
 
Depois volta a internar-se
No hospital das cínicas veleidades sociais.
 
Veste a capa da circunspecção.
 
Adoenta-se por não poder
Gritar seus anseios,
Viver seus desvarios,
Cumprir seus sonhos.
 
E volta ao coma...
 
Quando ressurge,
Confrontando-se comigo,
Percebo o quanto permanece sempre o mesmo.
 
E vejo que quem se esvai,
A cada dia,
Sou eu.

 

Oldney Lopes©