Mãos

Minhas mãos andam cansadas,

Elas que já tanto passearam

Em carinhos, arrebatadas,

Todo seu corpo exploraram

Hoje se sentem sós,

Soltas, no vazio do mundo

Me pego pensando em nós

Me vem um suspiro fundo...

Minhas mãos que já te despiram

Que já sentiram teu cio,

Hoje sozinhas, vazias se viram

Estavam doendo de frio...

Mãos que já se agitaram

Alegres contando histórias,

Hoje se aquietaram

Quando lhes vem à memória

Quando eram abertas em abraço

Quando você viesse à frente

E atrás de ti se fechavam em laço

Encontravam-se contentes..

Hoje uma a outra procura,

Percorrem vazios entre si

Dizem que o que arde cura

Mas minhas mãos ardem por ti

Uma procura na outra o apoio

O calor que se foi quando partiste

Enquanto separo o trigo e o joio,

Só elas expressam o quanto é triste

E mesmo se eu estou bem,

Com as mãos é bem outra a história

Pois nelas fica gravada também

Boa parte da nossa memória.

Tenho procurado ser gentil com elas

Compreender sua doce saudade

Direcioná-las para coisas belas

Ao Passeá-las pela cidade

Deixo-as a escrever poesias, os sins e os nãos

Deixo que falem, livres da minha verdade,

Afinal, quem mais além de nossas mãos

Que abrem as janelas para a felicidade?